Machado de Assis
É uma situação incômoda, difícil de conviver. Tem um filme (“À primeira vista”) onde um cego, por uma maravilha da medicina voltou à enxergar. Ele andava pelas ruas com a namorada, quando viu um morador de rua, perguntou a ela: “o que é isso?”; ela respondeu: “nada”. Ele, inconformado, parou, viu que era um homem e exclamou assustado: “é um homem, um ser humano! Como você pode dizer que não é nada?!?!”.
Todos eles têm a sua história e os motivos que os levaram a viver esta vida que considero uma prova de fogo. Mas eles são seres humanos! Um dia tiveram uma família, um lar e uma posição social. Todos eles têm sonhos, vontades e necessidades.
Na invisibilidade que a grande maioria deles vive, alguns se destacam e surgem como personagens e na experiência que vivi ontem posso citar alguns, ALAN, CARLÃO, CHIQUINHO, JONATHAN, ZILU, FÁTIMA, ANDRÉ, ALESSANDRO, RICARDO e tantos outros!
Na rua tudo é diferente, as regras são outras é outra cidade, outro mundo escondido naquelas ruas que passam milhões de pessoas durante o dia, 13 de maio, Francisco Glicério, Conceição, Anchieta, Centro de Convivência... Estão espalhados por toda parte, cada um procurando o melhor lugar, o que pega menos vento, o mais próximo de lugares que tenha comida e banheiro.
Deve ser muito triste viver sem uma família, viver a esmo, sozinho e esquecido, muitas vezes sendo tratado como se fizesse parte do lixo. Deve ser muito triste não ter para onde voltar quando o sol se esconde e as sombras crescem anunciando a chegada da noite. A noite geralmente é fria, perigosa e escura e nos remete ao abandono e à solidão total. Imagine dormir sobre a calçada, sobre um banco, sem cobertor e muitas vezes coberto por alguns jornais tendo como companheira a solidão e o pesadelo.
Vamos refletir um pouco sobre esta triste situação hoje quando a sensibilidade é mais aguçada e se fala tanto na fraternidade. Muitos estão ocupados com festa, gastos exorbitantes e desnecessários, com presentes e ostentação. Vamos lembrar, nem que seja por um minuto, de nossos irmãos que são moradores de rua e perambulam por aí sem esperança e sem abrigo. Enquanto muitos desperdiçam comida e tudo mais, outros não têm sequer o básico para o seu sustento no dia a dia.
A pouco tempo conhecemos Wagner e Raquel e por eles foi envolvido muita gente, movimentada grande ajuda, conseguimos, emprego, moradia e melhores condições vida, formas de reintegrá-los a sociedade e ontem foi o dia de contar todas essas novidades para eles. Antes de chegarmos no lugar o pedido foi um só: “Se for pra ser, maravilha, estamos com td pronto! Mas se não for pra ser, nos mostre hoje”.
Fiquei mto decepcionada, pq descobri que as pessoas que eu estava lutando pra ajudar, me enganaram, mentiram... a história de vida não é a mesma contada, são usuários de craque. Fomos julgados de CULPADOS por termos descoberto toda a verdade “VCS ESTRAGARAM TUDO”, nãoo!!! Eles estragaram tudo, eles escolheram as ruas e as drogas, eles perderam uma oportunidade. No fundo eu já sabia, mas eu quis acreditar que podia ser diferente. Hoje levo o seguinte aprendizado, É PRECISO RESPEITAR AS ESCOLHAS DAS PESSOAS e eu não posso mudar a vida de uma pessoa se a própria não quiser!
Mas mesmo assim não foi uma noite perdida, pelo contrário foi terrível e ao mesmo tempo maravilhoso, conheci mtas histórias de vida e não perdi o meu entusiasmo pelo próximo, pode ser que eu me decepcione mtas outras vezes, mas pode ser que eu encontre alguém que esteja mesmo buscando uma oportunidade.
E EU NÃO VOU DESISTIR!
Agradeço a minha mãe, que mais uma vez esteve do meu lado, participa de tudo e as minhas amigas da UPP. Acho que fazemos pelos outros, mas na verdade estamos fazendo por nós, posso ver a transformação pessoal de cada uma. Muito obrigada por estarem na minha vida e por batalharem com tanto amor.
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